“O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”. Se você fizer uma busca no Google pelo termo agora mesmo, provavelmente será essa a resposta que você vai encontrar. Mas o que será que isso quer dizer na prática?

É um palpite, apenas, mas é muito provável também que você (e muita gente) faça uma associação imediata entre sustentabilidade e meio ambiente. Ou ainda relacione o equilíbrio entre o crescimento econômico e o uso de recursos naturais. E não há nada de errado com esse entendimento. Ele está relacionado ao próprio histórico do termo, do qual falaremos um pouco mais a seguir. Por outro lado, falaremos também sobre como a definição de desenvolvimento sustentável ganhou um caráter mais holístico, englobando questões sociais. Para terminar, discutimos alguns caminhos para que um negócio possa se adaptar e prosperar em um momento que a sociedade pede cada vez mais por transparência e responsabilidade. Vamos lá?

A história do conceito

O uso moderno de desenvolvimento sustentável foi definido pela primeira vez em 1987, em um documento da Organização das Nações Unidas chamado de Nosso Futuro Comum. Também conhecido como Relatório de Brundtland – em homenagem à presidente da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Gro Harlem Brundtland -, o documento foi produzido por essa Comissão após anos colhendo relatos de diversos representantes de Estado, cientistas, institutos de pesquisa, donos de indústrias, organizações não governamentais e do público em geral. Segundo o Relatório de Brundtland, o desenvolvimento sustentável é “um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão em harmonia e reforçam o atual e futuro potencial para satisfazer as aspirações e necessidades humanas.”

A definição também enfatizou que “o desenvolvimento sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos.” Essa ênfase na preservação dos recursos naturais foi mais uma vez reforçada com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento que aconteceu em 1992 no Rio de Janeiro. A Rio-92 reuniu representantes de 172 países com o objetivo de delinear ações que promovessem o desenvolvimento sustentável em escala global.

O resultado foi a chamada Agenda 21, um documento de 40 capítulos evidenciando os problemas do momento e indicando caminhos para que governos assumissem um compromisso em prol do “desenvolvimento e cooperação ambiental”. Não é estranho, portanto, que tenha se criado uma associação direta entre desenvolvimento sustentável e meio ambiente.

Desenvolvimento sustentável para além das questões ambientais

É fato que a mudança climática e a perda da biodiversidade são grandes problemas da sustentabilidade atual. O conceito de sustentabilidade, no entanto, tem uma proposta holística; isto é, uma que considera o todo das questões ecológicas, sociais e econômicas de forma interligada.

Para entender melhor o porquê disso, considere a quantidade de recursos necessários para manter a população mundial, de 7.5 bilhões de pessoas. Estamos falando de alimentos, água, ar, energia, moradia, espaço físico, emprego, transporte, etc. Agora considere que nos últimos 60 anos, a população cresceu de forma bastante acelerada, consumindo mais e mais recursos, sem que houvesse tempo de a natureza se recuperar. Nos próximos 15 anos, a população ainda deve crescer 1.3 bilhões. Isso significa, na prática, que cidades vão precisar crescer tanto, que terão de expandir para áreas de cultivo de alimento. Ou que a frota de carros circulando nas ruas deve dobrar; que a China, por exemplo, deve aumentar o consumo de carne em 40%. A demanda de água aumentará em 30%, enquanto a demanda por alimentos e energia deve subir 50%. Esse aumento na demanda deve fazer com que os preços subam, o que impactará mais ainda as populações mais carentes aumentando as desigualdades e o abismo social. Em resumo, a conta desse crescimento será impagável. 

É preciso, que haja então um equilíbrio entre todos os recursos, para que se atinja a sustentabilidade.

desenvolvimento sustentável
Diagrama Venn
A representação da sustentabilidade por meio desse diagrama também data de 1987 e já adquiriu diversas versões. O diagrama traduz a abordagem sistemática da sustentabilidade, que se encontra na intersecção dos sistemas ambiental, social e econômico.

São três pontos a se considerar:

1. Qualquer mudança em um dos sistemas tem um efeito sobre os outros e 2. Uma mudança positiva em um deles, não necessariamente significa um impacto positivo sobre os outros. 3. Problemas tradicionalmente vistos como exclusivos à uma categoria, são geralmente melhor solucionados se abordados como um problema de todas elas.

Isso porque, o avanço nas questões econômicas, por exemplo, não significa necessariamente um impacto positivo no ambiente e na sociedade. Da mesma forma, um problema como a cólera, por exemplo, está relacionado não só à pobreza, mas também à falta de infraestrutura, degradação do meio ambiente e ao pouco acesso à informação.

Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável

Dessa forma, é possível entender hoje sustentabilidade como um objetivo final e desenvolvimento sustentável como os passos para se chegar lá, num mundo sustentável. Para deixar isso mais claro, a ONU delineou uma nova lista de objetivos, que traduzem essa visão mais sistêmica do conceito.

Agenda 2030 e os ODS

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) fazem parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU. Trata-se de um novo plano de ação para o período entre 2015 e 2030, voltado para governos e para que todos os interessados se envolvam de forma colaborativa. Com os ODS, a ONU reuniu em um só projeto as questões ambientais e o foco social da Agenda de Desenvolvimento em vigor entre os anos 2000 e 2015 (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio).

São 17 objetivos globais “integrados e indivisíveis”, cada qual com sua lista de metas, enfatizando 5 componentes principais: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias. Pessoas, planeta e prosperidade referem-se respectivamente aos aspectos sociais, ambientais e econômicos da sustentabilidade. Dados os desafios atuais, a Agenda 2030 prevê que parcerias são fundamentais para fortalecer a capacidade dos participantes de trabalhar em conjunto. Além disso, sem “paz”, representando também justiça e instituições sólidas, fica impossível atingir os ODS.

A Agenda 2030 e os ODS são diretrizes que devem ser adaptadas localmente. Sua implementação e acompanhamento também estão previstos no programa. A responsabilidade de colocá-los em prática é de cada governo. Os ODS incentivam, porém, uma criação conjunta, de corporações, organizações, comunidades e agentes de transformação, baseada no aprendizado e na troca de experiência. Em outras palavras, os ODS criaram uma rede de orientação e troca que pode ser adotada por todos, para que “ninguém seja deixado para trás”.

Sustentabilidade para negócios: os ODS como guia

Mas se você chegou até este blog, é muito provável que faça parte de alguma empresa, talvez de médio e pequeno porte. É possível que você esteja se perguntando então, quão relevante tudo isso é para você. Ou ainda, como a sua empresa pode adotar uma proposta sustentável e ter um impacto positivo para o futuro.

Além da busca por um mundo sustentável, onde não haja pobreza, preconceito, fome, onde os direitos humanos sejam respeitados, com igualdade de gênero, onde os recursos naturais sejam aproveitados sem destruição, onde haja progresso tecnológico em harmonia com a natureza, etc., há outras razões para que empresas optem por uma agenda sustentável e adote os ODS.

Há um apelo cada vez mais crescente da sociedade por maior transparência e responsabilidade por parte das empresas. De acordo com uma pesquisa da Accenture de 2019, mais da metade dos consumidores afirmam que pagariam mais por uma opção sustentável de produto, pensado para ser reutilizado ou reciclado. Uma outra pesquisa, da Stern School of Business da Universidade de Nova York do final do ano passado, mostra que consumidores não ficam apenas na intenção, já que relacionaram um aumento de 50% de compras em produtos selecionados que tinham uma proposta sustentável. Dessa forma, a preocupação com a sustentabilidade pode se tornar uma vantagem competitiva única, com apelo não só entre consumidores, mas também de investidores. Além disso, novas oportunidades para o crescimento do mercado podem gerar novas receitas.

Um olhar para dentro das empresas traz um panorama semelhante. Uma série de estudos recentes mostram as vantagens da Diversidade & Inclusão para sua equipe. Uma análise da McKinsey de 2019 evidencia que empresas com diversidade de gênero em posições de liderança tiveram um desempenho 25% maior que a expectativa em relação a lucros. O estudo afirma que companhias que levam a diversidade de seu quadro de funcionários a sério são mais do que nunca capazes de superar equipes com menor diversidade em termos de lucro.

Buscar o desenvolvimento sustentável também faz parte da análise de risco da sua empresa e pode garantir a continuidade dos negócios. Afinal, diversos fatores podem causar alguma interrupção nos negócios ou em alguma etapa da cadeia de suprimentos. A pandemia atual de Covid-19 é só um exemplo de como se adaptar é imprescindível. O mais recente relatório do Fórum Econômico Mundial destaca a mudança climática como o principal risco global para negócios, muito à frente de outros problemas. Outros estudos sobre pragas no setor agrícola, enchentes ou até variações no preço dos combustíveis mostram que o valor de companhias chega a cair até 7% quando há uma perturbação na cadeia de suprimentos, com consequências mais duradouras.

Desenvolvimento Sustentável e a geração de valor compartilhado

Por aqui  acreditamos que sustentabilidade não é uma palavra da moda e que o desenvolvimento sustentável é a única maneira pela qual as empresas podem criar valor e sobreviver a longo prazo.

O conceito, como você pôde ver, já não é novo, mas segue sendo um desafio romper com o paradigma atual de acionistas que enriquecem temporariamente e ampliar o entendimento de que a criação de valor se estende a todas as partes interessadas, incluindo a biosfera e as gerações futuras. Nossa missão segue sendo incorporar essa visão ao núcleo de todos os modelos de negócios, seja por meio de soluções como o 4D Sustainability Canvas ou dos conteúdos publicados por aqui. Se você quer fazer parte desse movimento, não esqueça de se inscrever em nossa newsletter no box à direita e continuar nos acompanhando. Até a próxima!


Esse texto foi escrito por Gabriella Rodrigues, Ph.D, PMP. Gabi é historiadora, arqueóloga, transformada em solucionadora profissional de problemas e agente de transformação, sempre motivada pela responsabilidade social.