Acredito que eu posso afirmar com segurança de que existe um consenso sobre o poder transformador da educação. Com a mesma segurança afirmo que a nossa convidada da vez na seção Construindo Futuros Coletivos compartilha dessa crença. Por isso mesmo, a educação vem sendo a ferramenta principal do seu trabalho já há alguns anos. É a partir desse poder que ela vem trabalhando pela educação para a sustentabilidade, realizando e participando de projetos e iniciativas diversas em busca de promover uma transformação profunda na sociedade.
A seguir, Andrêssa nos conta um pouco sobre sua trajetória pessoal e também do surgimento de sua empresa, a Horizontte Sustentável.
Andrêssa, quais são os principais serviços oferecidos pela Horizontte Sustentável, hoje?
Nós trabalhos com educação para a sustentabilidade. A Horizontte Sustentável tem o propósito de inspirar ideias, articular pessoas e mobilizar ações de educação para (e pelo) desenvolvimento sustentável e culturas regenerativas, através de metodologias diversas como cursos, oficinas, espaços de diálogos, palestras e vivências.
Em 2015, por exemplo, eu pude desenvolver projetos de contraturno escolar no Programa Dinheiro Direto na Escola, envolvendo os alunos de ensino fundamental em diversas atividades ligadas à prática da educação ambiental. Neste mesmo ano, inscrevi um projeto que envolvia o tema da educação em um edital ligado à tecnologias (social e digital) em São Paulo – VAITEC da ADESAMPA – Agência de Desenvolvimento da cidade de SP, vinculado à Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento.
Entre 2017 e 2019, realizei assessoria para colégios particulares da cidade de São Paulo e na Baixada Santista e, através de um novo edital, ligado ao Governo Aberto, a empresa pode realizar oficinas divulgando a Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Destas incursões aos colégios e pela educação observando o dia a dia, nasceu a necessidade de se delinear projetos e ações com e pelo tema da educação socioambiental, não somente para a Educação Básica, como também para Educação Superior e Educação Corporativa.
Você mencionou alguns trabalhos realizados desde 2015, mas pelo que conversamos, sei que essa história começou bem antes. É a sua própria história que se mistura com a da empresa por meio de iniciativas diversas relacionadas à educação para a sustentabilidade…
Isso. A semente da Horizontte Sustentável nasceu em 1994 quando eu tive a minha primeira empresa de educação ambiental/ estudo do meio. Aos 20 anos, precisei me emancipar para poder assinar contratos e, junto com mais dois sócios, iniciar um negócio que se tornou um empreendimento até bem inovador para a época – o costume das escolas organizarem grandes imersões na natureza com o intuito de estudos ainda era limitado a poucos (e caros) colégios.
Na Zero Lux, conduzíamos estudantes do Ensino Médio (principalmente) a conhecer, explorar e estudar o ecossistema e a região das Cavernas do PETAR – Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (ao sul do Estado de SP, quase divisa com o Paraná). Durante dois anos pude realizar diversas incursões na região que se tornaria um grande polo do turismo socioambiental, anos mais tarde.
Em 1997 o negócio se desfez, porém eu ainda pude atuar no PETAR, junto à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente através de um estágio de um ano na área de comunicação (cursava Publicidade e Propaganda); conhecer ainda mais de perto o Vale do Ribeira este imenso polo de agricultura, quilombos, com enormes desafios socias, ambientais e econômicos.
Ao fim do estágio, já com estas sementes da sustentabilidade enraizadas, eu continuei minha carreira na minha área de formação, principalmente em marketing, trabalhando mais de 20 anos em empresas de bens de consumo e serviço (B2B e B2C), de micro a grandes empreendimentos.
À época eu acreditava que trabalhar pelo desenvolvimento sustentável era estar “na área”, anos depois eu fui descobrindo que se tratava muito mais de uma mudança de cultura, de se fazer negócio e de filosofia de vida, ou seja, algo bem mais amplo, complexo e que necessitava de um novo mindset.
Neste ínterim, eu fiz uma pós em marketing na ESPM e depois um curso de especialização em responsabilidade social e terceiro setor na FIA/USP. Os bons cursos voltados para o desenvolvimento sustentável sempre foram (e continuam sendo) muito caros no Brasil; há 15 anos não havia tantas possibilidades de se estudar o tema como hoje, de uma forma mais diversa e abrangente. Isso me frustrava um pouco pois achava que nunca conseguiria trabalhar com o tema pelo qual sou apaixonada.
Apesar dos Objetivos do Milênio (8 ODM) terem sido implementados desde 2000, eu só fui descobri-los e retomar aquela sementinha plantada na década de 90, em 2008 quando no desânimo de se trabalhar com algo que eu não acreditava mais, eu me vi na necessidade, financeira mas também existencial, de buscar um novo caminho, algo que eu pudesse exercer o meu propósito, mesmo sabendo que seria um grande desafio aos 35 anos.
Descubro, porém que vagas específicas quase não haviam “na área” de desenvolvimento sustentável: no segundo setor, haviam vagas mais técnicas para engenheiros ambientais, gestor de qualidade, entre outras muito para se trabalhar com auditorias e projetos de compensação, cujo meu perfil não se encaixava; no terceiro setor, também se exigiam formações específicas ou experiências em projetos, os quais também não os tinha além de se trabalhar com causas sociais ou ambientais (o que eu não queria, pois sempre acreditei na amplitude do tema e não queria trabalhar por uma única causa, precisava de algo mais holístico) e, por último, no governo, nem se falava tanto deste tema.
Então o que fazer? Pensei: se não existe um trabalho para o meu perfil, terei que criá-lo e me recriar também. Comecei pelo início: os estudos; autodidata nos temas relacionados à prática pelo desenvolvimento sustentável, fazia cursos (em sua maioria gratuitos), lia muito, participava de congressos, seminários, Fóruns, debates buscando sempre compreender esta imensidão de temas que a sustentabilidade nos traz. Fiz cursos desde jardinagem e horta à Agente Socioambiental pela Carta da Terra e inúmeros outros, muitos deles pela Universidade de Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ) que pertence à Prefeitura de São Paulo e que proporcionou além do conhecimento intelectual, diversos encontros com pessoas maravilhosas que me ajudaram nesta transição.
Um longo e bonito caminho trabalhando a favor da educação para a sustentabilidade. A Horizontte Sustentável surgiu oficialmente quando?
Em 2010 eu entrei no Impact Hub e fundei a Horizontte Sustentável – ainda sem saber muito bem como eu trabalharia com o tema, para quem, com qual produto. Nesse local, encontrei parte das pessoas que, como eu, buscava trabalhar com o seu propósito. Eu via, ouvia e trabalhava em projetos com outras pessoas, negócios, startups ligados à temas ainda inovadores, como a sustentabilidade e facilitação gráfica, e pude me formar e informar sobre outros tantos como mobilidade, economia criativa, moeda social, jogos cooperativos, culturas regenerativas, permacultura, economia de compartilhamento, cultura de paz, negócio social, economia azul, pensamento sistêmico, além de acompanhar o início de diversas ações que impactariam o Brasil, como a Virada Sustentável, ou negócios que impulsionariam a juventude como o Engajamundo. O ambiente inovador tornava possível estes caldeirões de soluções para os grandes desafios do complexo mundo.
Por meio da sua fala, já foi possível conhecer um pouco dos impactos gerados por você. Gostaria de aprofundar?
Claro. Ao longo dos últimos anos foi possível realizar projetos incríveis e impactar muita gente, nos mais diferentes segmentos. Por exemplo, por meio do projeto que mencionei ter inscrito em um edital da ADESAMPA, pude atuar em mais de 20 escolas públicas atingindo mais de 300 estudantes e professores e pude observar a cada dia como era o funcionamento estrutural e pedagógico das salas de aula.
Antes disso, entre 2009 e 2012, também fiz diversas parcerias como educadora ambiental em organizações que trabalhavam com projetos ligados à área de responsabilidade social de empresas e que atuavam junto a comunidades locais, tanto em São Paulo quanto em outras cidades. Atuei em projetos maravilhosos de educação com crianças, jovens e adultos.
Em outros projetos também ligados à cidade de São Paulo e na Baixada Santista foi possível atingir diversos estudantes e a população em geral, nos CEU´s, bibliotecas e outros espaços públicos.
Um dos grandes destaques, pessoalmente, foi em 2011. Em um destes encontros da sociedade civil organizada que sempre participava, eu me vi voluntária de um grupo que estava organizando a Cúpula dos Povos para a Rio +20, evento para a população que aconteceria paralelo ao evento oficial da Conferência das Nações Unidas pelo Desenvolvimento Sustentável, na cidade do Rio de Janeiro, 20 anos após a ECO 92. Junto com diversas pessoas de organizações importantes com um papel fundamental na sociedade, como cidadã voluntária, contribui com diálogos intersetoriais, acompanhei debates em locais públicos, encontros sobre economia verde, governança, energia renovável, entre muitos outros temas. Digo que este período de 2 anos foi um mestrado intensivo pois o convívio com estas pessoas, as produções de conteúdos, as participações no coletivo, muito contribuíram com a minha formação de hoje.
Estar no processo de construção da Agenda 2030, ao lado da população, desde as reuniões de planejamento até as manifestações e atividades no evento, foi uma experiência marcante na minha vida pessoal e profissional, onde pude ratificar meu propósito.
Falando nisso, para fecharmos, como você acha que a colaboração pode ajudar seu propósito/missão?
Em 2011 surgiu a oportunidade de me associar à Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável na qual estou como diretora voluntária na área educacional onde pude concretizar a ideia de que, apenas no coletivo, somando-se e multiplicando-se atitudes individuais, teremos soluções para a complexidade dos grandes desafios enfrentados pela humanidade.
Desafios enormes e complexos nos esperam pela frente, sem dúvida. Mas, pegando um gancho no que disse a Andrêssa, acreditamos que é por meio da força do coletivo (e da educação para a sustentabilidade) que podemos imaginar novos horizontes.
Mudar o padrão e o pensamento vigente (o famoso “mindset”) não é fácil, mas que bom que podemos contar com pessoas e empresas como a Andrêssa e a Horizontte Sustentável nessa caminhada.