Você já ouviu falar nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável? O que temos percebido é que, apesar dos esforços cada vez maiores pela difusão do tema, existe ainda certa confusão sobre do que tratam esses objetivos, ou ODS, como também são conhecidos. E, mais do que isso, qual a relevância deles em nosso cotidiano, principalmente para os negócios. Neste artigo, vamos tentar responder a esses questionamentos, tanto do ponto de vista mais, digamos, teórico, como da prática.
Vamos lá?
Para começar, uma metáfora
Se você já teve oportunidade de navegar pelo nosso site, provavelmente se deparou com a imagem de um farol. Essa é uma metáfora visual adequada para a compreensão do tema. Não à toa, gostamos dela. Isso porque um farol tem como principal função orientar os navios quando próximos de lugares perigosos, da mesma maneira que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram criados para colocar governos e empresas numa mesma direção, distantes dos riscos de um futuro insustentável, resultado das mudanças climáticas e do caos social.

Aos governos cabe, então, o papel de “agência reguladora”, ditando para onde e como vamos. Às empresas, o de conduzir suas embarcações seguindo essas orientações para longe do perigo e em direção à sustentabilidade. E quando falamos em embarcações, é preciso considerar barcos de todos os tamanhos. Desde enormes transatlânticos (as grandes empresas), talvez mais lentas em sua movimentação – mas certamente com potencial de impacto enorme – à navios modernos, ágeis e inovadores (start-ups), passando por aqueles que, mesmo sem recursos, podem se apoiar na força de sua equipe e da colaboração para remar e chegar longe (como é o caso das pequenas empresas).
Essa ilustração é um bom começo e tê-la em mente pode ajudar na compreensão do restante do texto.
Antes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os Objetivos do Milênio
Normalmente, quando olhamos para trás, é a partir de lentes pessimistas que analisamos o nosso desenvolvimento enquanto sociedade. Ainda mais quando questões como as mudanças climáticas e a própria pandemia do novo coronavirus – que expõe e agrava as desigualdades sociais mundo afora – surgem no horizonte, turvando nossa visão.
Porém, é inegável que nas últimas décadas tivemos grandes avanços. E muitos deles se devem aos Objetivos do Milênio, um compromisso assumido por 189 nações e 23 organizações internacionais durante a Cúpula do Milênio, realizada no ano 2000 pelas Nações Unidas (ONU). Esses objetivos, ou ODM, foram divididos em 08 prioridades, 21 metas e 60 indicadores para a melhoria das condições de vida das populações mais pobres do planeta.

O relatório gerado pela ONU mostra resultados positivos, apesar, claro, de existirem deficiências. Para se ter uma ideia, há 20 anos, quando os ODM foram criados, quase metade do mundo em desenvolvimento vivia em extrema pobreza. Esse número diminuiu em mais da metade, passando de 1,9 bilhão para 836 milhões em 2015, final do período proposto para que esses objetivos fossem alcançados. Outras conquistas que merecem destaque:
- Redução pela metade do número de pessoas subnutridas desde 1990;
- Aumento da taxa de matrícula em 91% em relação a 1990;
- Aumento considerável de meninas nas escolas;
- Ampliação da participação política das mulheres;
- Redução em mais da metade na taxa de mortalidade de menores de cinco anos, caindo de 90 para 43 mortes por 1.000 nascidos vivos entre 1990 e 2015;
- Diminuição em 45% da taxa de mortalidade materna no mundo e melhoria no atendimento às gestantes;
- Redução de cerca de 40% na infecção pelo HIV/AIDS e grandes avanços na redução de mortes por malária e tuberculose;
De fato, nas últimas décadas vimos avanços em diversas frentes, incluindo um crescimento econômico sem precedentes. Só que o mesmo modelo de desenvolvimento nos trouxe até aqui trouxe também grandes desafios ambientais e sociais. Se a pobreza diminuiu, isso aconteceu de maneira diferente nos diversos países, mostrando que combater as desigualdades deve ser nosso próximo grande objetivo, bem como a preservação do meio ambiente, cada vez mais ameaçado graças a uma busca inconsistente por crescimento contínuo e ganhos financeiros no curto prazo.
“A emergente agenda de desenvolvimento pós-2015, incluindo o conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aspira ampliar nossos sucessos e colocar todos os países, juntos, com firmeza, no caminho certo rumo a um mundo mais próspero, equitativo e sustentável”
Ban-ki-moon, ex-secretário-geral da ONU
Deste modo, a partir de uma avaliação positiva da adoção de metas compartilhadas como estratégia de ação e como um passo seguinte aos ODM, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram criados. Com uma agenda mais ampla e inclusiva e a ideia de não deixar ninguém para trás, os 17 novos objetivos buscam erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta.

fonte: Pesquisa Engajamento Dos Pequenos Negócios Brasileiros Em Sustentabilidade E Aos ODS, do Centro Sebrae de Sustentabilidade
Tá, mas e daí?
Até aqui, você deve ter pensado: certo… mas e eu com isso? Concordo que até aqui tudo o que foi dito soa distante em termos práticos. Se o conhecimento deste pequeno histórico nos ajuda a compreender a magnitude da iniciativa, ele pouco nos diz com relação ao nosso papel, enquanto indivíduos e empresas, dentro das ações necessárias para que essas metas sejam alcançadas.
Para começarmos a clarear um pouco essa questão, dois pontos são fundamentais:
- A criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é sem precedentes no que diz respeito à colaboração, uma vez que sua definição baseou-se em um processo de consultas abertas e de pesquisa global, coordenado pela ONU, com a participação de mais de 1,4 milhão de pessoas de mais de 190 países – governos, sociedade civil, setor privado, universidade e instituições de pesquisa – que contribuíram pessoalmente ou por meio da plataforma online My world
- Os ODS, diferentemente dos seus antecessores, os Objetivos do Milênio, explicitamente incluem as empresas como peça fundamental para a resolução dos desafios do desenvolvimento sustentável. E não poderia ser diferente já que o setor privado é uma força motriz para o desenvolvimento econômico e geração de empregos, sendo responsável por 84% do PIB Global e 90% das oportunidades de trabalho. Por outro lado, claro, é um grande consumidor de recursos naturais e gerador de impactos sociais e ambientais, para o bem ou para o mal.
Por que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são importantes para os negócios?
Precisamos que os líderes empresariais usem sua enorme influência para impulsionar a inclusão de crescimento e oportunidades. Nenhuma empresa pode se dar ao luxo de ignorar esse esforço, e não há uma meta global que não possa se beneficiar do investimento do setor privado.
António Guterres, Secretário Geral da ONU
É fácil enxergar o que os ODS ganham com as empresas. A partir do mote “não deixar ninguém para trás”, a ONU reforça que essa é uma agenda de todos e que nenhum setor individualmente será capaz de alcançá-la. E, nesse caso, podemos dizer que o setor privado é que faz “a roda girar”, não só economicamente, mas com enorme influência sobre hábitos, comportamentos e tendências. Além disso, é dele também o maior potencial de transformação e inovação disruptiva.
Mas e o contrário? O que é que as empresas ganham com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?
Existe um benefício que, no meu ponto de vista, se destaca frente a todos os outros e é primordial: a construção de um mundo mais justo e igualitário, com uma vida digna e oportunidades para todos dentro dos limites do planeta. Mas essa, infelizmente, não é AINDA a linguagem dominante no mundo dos negócios. Assim, talvez o ganho mais óbvio seja o de imagem e fortalecimento da relação com os diversos stakeholders (colaboradores e consumidores principalmente). Claro, não para por aí. Isso porque se existe uma linguagem que o mercado entende é a do dinheiro.
Um relatório publicado pela Comissão de Negócios e Desenvolvimento Sustentável em 2017 mostra que a busca pelos ODS poderia gerar US$ 12 trilhões em novas oportunidades de mercado por ano até 2030, gerando mais de 380 milhões de empregos no processo. No Brasil, outro relatório aponta que uma retomada verde pós-pandemia, com foco na redução de carbono (ODS 13), somaria 2,8 trilhões de reais ao PIB nacional em dez anos, o que geraria 2 milhões de novos empregos. Sem falar, claro, no maior poder de atrair a atenção dos investidores já que as informações sobre práticas ambientais, sociais e de governança (a famosa sigla ESG) têm se tornado cada mais relevantes no processo decisório.
Outro benefício que se deve levar em conta é a redução dos riscos, considerando desde possíveis danos à reputação da marca por quaisquer impactos negativos que ela venha a causar na sociedade ou no planeta, passando pelos riscos regulatórios, ou seja, do cumprimento de leis e normas, até riscos decorrentes das mudanças climáticas. Nesse caso, por exemplo, em um cenário de escassez cada vez maior de recursos, se eu busco alternativas mais sustentáveis e inovadoras para a minha matéria-prima (couro, minérios, etc) estou menos sujeito a oscilações de preço ou desabastecimento.
Mas… Como?
Por último, e possivelmente, mais importante: como associar a estratégia da minha empresa os ODS? Existem diversas publicações, pesquisas, estudos de caso e afins disponíveis na internet indicando o “caminho das pedras”. A grande referência talvez seja o SDG Compass Guide, desenvolvido originalmente pelo Global Reporting Initiative (GRI), UN Global Compact e World Business Council for Sustainable Development (WBCSD).
O guia propõe 5 passos para a implementação e a boa notícia é que o primeiro você já está dando ao ler este artigo. O entendimento do que são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e sua relação com o ambiente empresarial é importante para o reconhecimento das oportunidades e responsabilidades relacionadas ao seu negócio.

Na definição de prioridades, o passo 2, o SDG Compass sugere que a escolha dos ODS prioritários deve acontecer sempre por meio de uma análise de impacto negativo. Ainda que válida, essa não precisa ser a única estratégia. É possível, também, priorizar aquele(s) Objetivo(s) relacionados ao “core business” da empresa, algo que faz muito sentido para os negócios sociais (mas não só). Ou, ainda, decidir a partir de uma avaliação relacionando esforço e impacto, algo que pode ser crucial para uma implantação bem sucedida nos pequenos e médios negócios que precisam ser cirúrgicos em suas decisões por conta dos recursos limitados (tempo, dinheiro, pessoas). Essa última abordagem é o que normalmente propomos em nossos workshops.
Nossa metodologia parte de uma abordagem bastante semelhante, mas mais simplificada, e agregando elementos colaborativos tanto no primeiro passo, o mapeamento dos impactos da empresa a partir do 4D Sustainability Canvas, como na definição das metas, de modo que as responsabilidades são distribuídas pela equipe e não cascateadas da liderança para os demais.
Metas e Indicadores
Quanto a criação de ações estratégias, as possibilidades são muitas. Vamos a alguns exemplos:
- Criação de política para seleção de fornecedores. Pode-se levar em consideração informações sobre práticas ambientais e sociais, incluindo gestão de resíduos, uso de materiais sustentáveis, respeito aos direitos humanos, diversidade, etc. Aqui os impactos podem dizer respeitos a diversos ODS: 5, 8, 10, 13… Depende dos critérios estabelecidos. O indicador aqui é a criação da política em si, o que pode ocorrer de maneira inclusiva, considerando a voz de diferentes colaboradores, principalmente de grupos minorizados;
- Aumento (e/ou igualdade) do número de mulheres na empresa de forma geral; Aumento (e/ou igualdade) do número de mulheres em cargos diretivos; Igualdade (e transparência) salarial homens e mulheres… Todas essas iniciativas dizem respeito ao ODS 5, Igualdade de Gênero. O progresso pode ser mensurado a partir da proporção entre homens e mulheres (inicial e que se deseja alcançar);
- Implantação de princípios de design circular na produção. A mensuração pode se dar por diversas frentes, como toneladas de resíduo reaproveitadas ou quantidade de produtos feitos a partir de material reutilizado vendidos (ODS 12);
- Redução ou eliminação do plástico de produtos e/ou embalagens, meta diretamente relacionada ao ODS 14. Pode ser mensurada a partir da quantidade (% ou Kg, por exemplo);
- Criação de políticas afirmativas para os processos seletivos, priorizando a contratação de pessoas de grupos minorizados (negros, LGBTQI+, refugiados,etc), como foco na redução das desigualdades (ODS 10)
Outras possibilidades podem ser exploradas em nossas Cartas de Ação ODS.
Lista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Para finalizar, listamos quais são os 17 Objetivos logo abaixo. Acesse os links para saber mais sobre cada um deles.
- Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
- Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável
- Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
- Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
- Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
- Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos
- Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
- Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos
- Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
- Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles
- Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
- Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
- Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos
- Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
- Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade
- Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis
- Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável
Espero que tenha gostado e que tenha sido possível esclarecer um pouco mais o assunto. Mais do que isso, que agora você tenha condições de iniciar sua jornada pelos ODS com mais tranquilidade. E, se precisar, como sempre, estamos por aqui. É só entrar em contato.